Quase cinco anos depois de os líderes mundiais terem aprovado, unanimemente, a Agenda 2030, a trajetória política que seguimos tem se desviado de seu curso original. Para alcançarmos um mundo sustentável, próspero e de paz, precisamos de uma Década de Ação reforçada, com entrega e dedicação absolutas. O custo de falharmos em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), segundo a ONU, é impossível de suportar, e o destino e futuro da humanidade são decididos agora, nas ações que todos tomamos no dia-a-dia.
Em 25 de setembro de 2015, na sede das Nações Unidas, em Nova York, 193 líderes mundiais aprovaram a Agenda 2030. Nas palavras do então secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, esta Agenda seria “a nossa visão comum para a humanidade e um contrato social entre os líderes mundiais e os povos”.
Com esta Agenda, os povos de todo o mundo uniram-se sob um único propósito: acabar com todas as formas de pobreza até 2030.
A Agenda 2030 é a sequência natural e mais ambiciosa dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que foram implementados em 2000 e compreendiam oito grandes objetivos com 22 metas a alcançar até 2015. Chegado a este ano, apesar de uma redução significativa das desigualdades, muitos dos problemas persistiam. A pobreza extrema continuava a afetar 836 milhões de pessoas, a fome atingia 12,9% da população mundial e a ameaça climática ganhava mais ímpeto a cada ano.
A Agenda 2030 foi criada, assim, como o esforço redobrado de guiar os países para um futuro sustentável e sem desigualdades. Para o atual secretário-geral da ONU, António Guterres, este plano é o elemento definidor do nosso tempo e é uma plataforma integrada para responder às necessidades das pessoas e dos governos. Para isso, esta plataforma mune-se de 17 ODS, que englobam 169 metas. O seu propósito, bem claro no seu lema, é Transformar o Nosso Mundo.
Para essa transformação, todos são chamados a atuar e ninguém é deixado para trás. Estando todos interligados entre si, os Objetivos alcançam todos os aspetos do bem-estar humano e do planeta.
Os ODS são um apelo universal para acabar com a pobreza, para protegermos a Terra e assegurarmos que todas as pessoas alcançam a paz e a prosperidade. Acima de tudo, os Objetivos são a materialização do mundo ideal, para o qual a Humanidade deve caminhar.
Estamos no caminho certo?
Passados 4 anos desde a implementação da Agenda 2030, a ONU organizou a primeira Conferência dos ODS em 25 de setembro de 2019, com o objetivo de medir os progressos já alcançados. As suas conclusões não foram animadoras. O que foi feito até agora não é suficiente e, por isso, é necessário aumentar a nossa ambição.
A Cimeira reconheceu que se registaram grandes mudanças desde que os ODS foram implementados. A mortalidade infantil e a mortalidade neonatal diminuíram significativamente, fixando-se hoje nas 39 e 18 mortes por cada 1.000 nados-vivos, respetivamente. O acesso seguro a água potável registou um aumento de 10 pontos percentuais entre 2000 e 2017, alcançando 71% da população mundial, e a eletricidade chega hoje a 9 em cada 10 pessoas.
Contudo, há ainda muitos problemas que persistem. A Mutilação Genital Feminina ainda afeta 200 milhões de mulheres todos os anos, 673 milhões de pessoas veem-se forçadas a defecar a céu aberto e apenas 3 em cada 5 pessoas no mundo tem acesso a instalações básicas de higiene. Mantendo a mesma trajetória política, a fome continuará a aumentar (como tem acontecido desde 2014), a pobreza extrema afetará 6% da população mundial em 2030 e o mundo irá aquecer 3,2ºC até ao final do século, muito acima dos 2ºC definidos no Acordo de Paris.
Aumentar a Ambição Mundial: Década de Ação 2020
Perante estes resultados, a Conferência dos ODS apelou a um maior esforço dos Estados e reuniu líderes políticos, sociais e empresariais para encontrarem soluções que promovessem a implementação dos objetivos. Como resultado, a conferência produziu 100 ações de aceleração dos indicadores e uma declaração política na qual apelava a 10 anos de compromisso e entrega totais, uma Década inteira de Ação.
A Década de Ação surge como o renovar da esperança mundial, o estímulo para que os governos e os povos de todo o mundo trabalhem juntos para alcançar um futuro sustentável, de paz, dignidades e direitos.
Esta iniciativa é inédita na nossa História. A Década de Ação implica a nossa própria superação enquanto espécie, não apenas para salvar o mundo moderno, mas para salvar o Planeta Terra. Juntos, teremos de alterar os nossos padrões de consumo, os nossos estilos de vida, toda a nossa sociedade.
Cada dia que deixamos passar, em que baixamos os braços e nos entregamos à inação, tem um efeito devastador no nosso mundo. Esses efeitos são já visíveis na frustração e nos protestos ao redor do globo, no agravar dos fenômenos climáticos extremos, no rosto das milhares de pessoas que se veem forçadas a migrar. O custo da nossa inação é demasiado grande. Há apenas um caminho, uma solução.
Operar uma revolução global total, avançar em frente em direção a um futuro incerto, desconhecido, melhor. Em 2020, entramos na Década de Ação. Hoje, começamos a construir o nosso futuro.