O Brasil possui três listas que informam oficialmente quantas e quais são as espécies ameaçadas de extinção. Uma para a fauna, uma para a flora e outra exclusiva para peixes e invertebrados aquáticos. São chamadas de “listas vermelhas”, pois trazem um alerta geral sobre qual a situação em que os seres vivos se encontram no meio ambiente.
Essas listas são feitas minuciosamente, em um longo e complexo processo de consulta e validação dos dados junto a cientistas e estudiosos em universidades e centros de pesquisa espalhados por todo o território nacional e mesmo fora daqui.
De tempos em tempos, o governo reúne esses pesquisadores e atualiza os dados, pois o meio ambiente sofre mudanças constantes, cada vez mais velozes. Às vezes, a situação melhora do ponto de vista da proteção das espécies. Outras vezes, não. A ciência também avança e aporta cada vez mais conhecimento para compor as tais listas. Trata-se de um processo dinâmico.
Os critérios usados na formulação das listas são definidos internacionalmente pelos cientistas que colaboram com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). São critérios aceitos, inclusive, no âmbito da Convenção da Biodiversidade das Nações Unidas, da qual o Brasil é signatário. Com isso, o país assumiu internacionalmente que vai seguir a política de formulação e manutenção das listas vermelhas.
De modo geral, tais listas organizam os seres vivos em doze diferentes graus de ameaça, que vão desde a extinção completa da espécie – o que é uma perda irreparável do ponto de vista da biodiversidade – até as que estão vulneráveis, têm baixo risco de ameaças ou aquelas cuja situação não se conhece, por falta de dados científicos disponíveis.
Alguns números
Só para se ter uma ideia, o Brasil tem 3.286 espécies ameaçadas de fauna e flora, sendo: 698 espécies ameaçadas de animais terrestres (165 estão na categoria mais grave: “criticamente em perigo”, com altíssimo risco de extinção). Isso representa cerca de 27% de todas as espécies analisadas.
Conheça aqui as listas de fauna e flora ameaçadas no Brasil.
São 475 espécies ameaçadas de animais aquáticos e marinhos (153 delas “criticamente em perigo”) e 2.113 espécies ameaçadas de plantas (467 delas “criticamente em perigo”).
Mas o nem só de más notícias vivem as listas de espécies ameaçadas.
Cerca de 300 espécies que estavam nas listas anteriores deixaram de constar nas listas atualmente em vigor. Ente elas, 88 animais terrestres, 82 aquáticos e 89 plantas. Entre essas espécies, algumas emblemáticas como arara-azul-grande e a baleia Jubarte. Outras espécies mudaram de posição nas listas, graças a medidas de conservação tomadas justamente com base em listas anteriores.
Eis uma das boas coisas das listas: elas orientam as políticas de governos para o meio ambiente, indicam caminhos para novas pesquisas e chegam a orientar importantes decisões econômicas, como no caso da lista dos peixes e invertebrados aquáticos, muitos deles usados para a alimentação humana. Neste caso, entrar para a lista pode significar ganhar proteção.
Uso comercial e impacto social
Das três listas vermelhas do Brasil, duas relacionam espécies usadas comercialmente ou que têm importância social e econômica para comunidades locais: a de plantas, e a de peixes e invertebrados aquáticos.
A lista de peixes e invertebrados inclui desde moluscos até tubarões. Para ter algum tipo de uso em larga escala, as espécies precisam figurar, pelo menos, na categoria de “vulneráveis” – o que significa que há certa disponibilidade desse recurso na natureza e que o manejo bem feito poderia assegurar sua sobrevivência.
No caso da lista dos peixes e invertebrados aquáticos, há forte pressão do setor pesqueiro para rever a publicação do governo seja revista. É que ela inclui espécies como como badejos, chernes, garoupas, cações e tubarões.
Mas esta lista de peixes está temporariamente suspensa por decisão liminar do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), a pedido da indústria pesqueira. Enquanto isso, a coleta de algumas espécies continua preocupando a sociedade.
Além disso, as listas vermelhas do Brasil enfrentam outras ameaças.
Projetos de lei e iniciativas de parlamentares no Congresso Nacional querem acabar de vez com as listas, ou diminuir muito o poder que elas têm de influir sobre o destino da biodiversidade nacional. (Jaime Gesisky).
Fonte: WWF Brasil