Conversei com Nilson Sarti, ex-presidente da Associação dos Dirigentes das Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (ADEMI-BA), que acaba de encerrar a sua gestão e se torna conselheiro da instituição. A gestão de Sarti foi pautada por iniciativas voltadas para a responsabilidade socioambiental como o IPTU Verde e o Projeto Mata Atlântica.
Formado em engenharia pela UFBA, MBA em Gestão Empresarial pela FGV, Sarti foi estagiário da Goes Cohabita e Veplan Engenharia, engenheiro analista no Desenbanco, diretor nas Empresas MRM e Sarti Mendonça e, atualmente, é diretor da akasa Incorporadora.
Na ADEMI-BA foi presidente durante quatro anos, por dois biênios consecutivos. Já ocupou os cargos de 1º vice-presidente na gestão 2008/2010, de 2º vice-presidente em duas gestões consecutivas e de diretor de comunicação. Atualmente, é conselheiro da entidade e vice-presidente Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Erica Rusch – O que é o IPTU Verde e por que a ADEMI decidiu emplacar este conceito?
Nilson Sarti – O IPTU Verde foi um projeto de lei proposto pela ADEMI-BA para algumas prefeituras e que consiste em descontos no IPTU para os moradores (adquirintes) de empreendimentos que adotarem técnicas de construção sustentável. Camaçari foi o primeiro município a aderir ao IPTU Verde. Mata de São João já assinou o protocolo de intenções e está em processo de elaboração da legislação municipal. Em Salvador, o projeto se tronou lei no final do ano passado e deve assegurar descontos de até 10% no IPTU. O assunto também está em pauta em Lauro de Freitas e Vitória da Conquista. A ADEMI-BA tem trabalhado bastante em defesa de políticas públicas voltadas à sustentabilidade e na criação de leis que façam avançar [a sociedade] nesse aspecto. O IPTU Verde é uma medida excelente para os municípios, boa para a população e melhor ainda para o meio ambiente.
ER – O que é o Projeto Mata Atlântica? Quais as consequências para a cidade de Salvador?
NS – O Projeto Mata Atlântica funciona como um guia para o incorporador que poderá verificar através do projeto o estágio de Mata Atlântica no terreno em que ele pretende construir um empreendimento. Todas as instâncias – governos municipal, estadual e federal, além do Ministério Público – poderão se posicionar desde a fase inicial dos projetos, em caso de dúvida recorre-se á consultoria da Fundação José Silveira. Isso acaba com a insegurança jurídica e evita casos de embargos. A ADEMI-BA defende o desenvolvimento sustentável do municpipio de Salvador, queremos regras claras e bem definidas. Por isso, lutamos mais de dois anos para esse acordo, junto com todos os envolvidos. A prefeitura irá utilizar o projeto Mata Atlântica ao aplicar a lei federal nos processos de licenciamento e autorização ambiental, para a implantação de loteamentos ou edificações em áreas urbanas, sendo facultado aos proprietários de imóveis contestarem o trabalho elaborado pelo MP, caso discordem do diagnóstico relativo à vegetação existente em seu terreno. Importante destacar que o acordo firmado para a criação do projeto é o único do Brasil de diagnóstico de Mata Atlântica em área urbana.
ER – O que é o Fórum de Sustentabilidade e o que o futuro reserva para o projeto?
NS – O Fórum de Sustentabilidade foi um projeto desenvolvido durante nossa gestão e que se tornou referência em eventos na área de responsabilidade socioambiental. Já realizamos quatro edições do evento. A cada ano, tivemos uma participação maior de público, entre eles, empresários do setor, arquitetos, ambientalistas e estudantes. Nas duas últimas edições tivemos a participação de palestrantes internacionais como Cristiano Michelena, membro da FOSTER+Partners – maior escritório de arquitetura do mundo, e Angelo Consoli, cofundador e presidente do CETRI-TIRES. O desafio agora é adaptar o evento às cidades do interior, inserindo o tema na pauta de várias regiões da Bahia.
ER – O que você espera da nova gestão da ADEMI em termos de sustentabilidade?
NS – A nova diretoria dará continuidade ao nosso trabalho. Todo o esforço para avançar no que diz respeito à adoção de práticas mais sustentáveis na indústria da construção civil e no mercado imobiliário baiano será mantido. O novo presidente, Luciano Muricy Fontes, já faz parte da diretoria da ADEMI-BA há dez anos, está completamente envolvido nessas questões, participou ativamente da construção do Plano ADEMI de Sustentabilidade e da criação do Fórum de Sustentabilidade, dos Guias de Sustentabilidade e Consumo Consciente.
ER – O que você espera da construção do novo PDDU?
NS – O novo PDDU precisa ser construído vislumbrando a necessidade da cidade para os próximos 35 anos, quando nossa cidade fará 500 anos. A ADEMI-BA irá participar dessa discussão, inclusive contratando consultorias para ajudar a apontar os caminhos para a revitalização de algumas áreas da cidade e descortinar novos vetores de crescimento. Ao desenvolver o novo Plano Diretor de Salvador é preciso refletir sobre que cidades queremos para nós, nossos filhos e netos.
*Erica Rusch é defensora da sustentabilidade, advogada, mestre em Direito Econômico com ênfase em Direito Ambiental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), tendo desenvolvido pesquisa e trabalho sobre o tema Ação Civil Pública de Responsabilidade por Danos Ambientais; pós-graduada em Direito Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); graduada em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Professora da Pós-Graduação em Direito Ambiental da Fundação da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. Membro da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção Bahia; palestrante em eventos sobre temas de Direito Ambiental e Sustentabilidade; autora de artigos, obras coletivas e trabalhos científicos apresentados e premiados em congressos e seminários; foi especialista visitante no curso de Direito Ambiental Comparado na Universidade do Texas (EUA).